sábado, 9 de fevereiro de 2008

pós - carnaval, sempre

http://content7.flixster.com/photo/56/47/26/5647269_tml.jpg TONHO chega em casa nos ares meio embriagados com que andara, com seus sapatos rasos, mocassins, ao lado do véu vaporoso com que Tõnia cobria, às vezes, o corpo. Ouve o barulho de suas chaves, particularmente. Usa as mãos para tirar o capacete de peão da cabeça, com alguma dificuldade e chega, no quase- escuro, até seu quarto. A rádio MEC deixara ligada. Seus dedos se adiantam para pegar cuidadosamente a foto impressa lá dentro da gaveta, junto de números de telefones em pequenos papéis rasgados , junto a pequenos cadernos de notas, perto a documentos, outros recortes. Ao aproximar o rosto e seus dedos, sente na imagem um estado expressivo, projetado quietamente, perspectivado no limite claro do ato de fotografar. Demora numa suposição infinita do quando e do quanto da permanência. E agora Tonho reconhece a companhia, por parte de Maistroianni. Pausada, ali, na sua mão..."não à toa inocentes índios já acharam que suas almas são capturadas em imagens..." diz em voz baixa, e a deita sobre a escrivaninha. Abre o chuveiro. Fica o murmúrio estalado, insistente, breve da água. Os pés no chão do box. Cabelos molhados, pensa num pensamento inteiro que foi sair para o carnaval. Lembra-se da calça! Onde é que estava? Ah , devia ter esquecido no bar!

Um comentário:

Anônimo disse...

Quão bela cena é esta de Tonho delicadamente ébrio retornando à casa, ao quarto. Seu gestual observando a fotografia e principalmente sua voz baixa ..."não à toa inocentes índios já acharam que suas almas são capturadas em imagens...". Emocionado penso no rádio tocar Catari, Catari de Tino Rossi enquanto Tonho se dirige ao chuveiro. Vemos a água escorrendo sobre seu rosto manchando de transparência a figura de seu semblante, observado por trás do vidro opaco do box. O rosto mais próximo, os olhos fechados. E então os olhos se abrem.

Rien qu'à moi tes baisers, / Je ne puis ô femme m'en passer / Et pour calmer mon incessante fièvre, / Je veux le jour, la nuit / Boire à tes lèvres