
"...as suas mãos onde estão
onde está o teu carinho,
onde está você..." Tonho cantarola ( sem a letra) ao mesmo tempo que limpa, com um guardanapo de papel, as marcas de fast-food em seus lábios. De repente fica muito sério...é que pensa que não deveria comer porcarias...mãos à mesa, vira-se para o lado e pergunta À TÔnia: "De que nos fantasiaremos no carnaval? " E ouve: "Que tal nudez total mais grandes bundas e grandes peitos de plástico?". Tonho vira o rosto, ela continua no jornal. Chateado, levanta-se da cadeira plástica presa no chão com ferros, e vai ao banheiro. Lá, declama Drummond. Voltas à mesa ( ansioso); ela nem aí, continua a ler; ele chega a ouvir o ruído das folhas impressas. Passa as mão nos olhos. Volta ao banheiro. Olha-se no espelho e se diz, em voz audível, ser de uma classe de gente tão nítida como o dia. Tão vasta, e tocável, como a noite. Não era um domingo lerdo , à tarde. Põe as mãos nos bolsos, empurra a porta do banheiro que fecha, ao sair. Seus passos estendem bem suas longas pernas no espaço
-Tõnia, vou para casa- diz
-Mas como és rebelde! ela desgruda os olhos das páginas ( hoje não é domingo, esqueceu foi?). Ele olha para o sol lá fora, sente as nuvens lá no alto ( cruza os braços e , cabeça baixa, repete a poesia com olho nos pés naquela lanchonete)
Nenhum comentário:
Postar um comentário